Por Daniel Caputo

Você já se fez essa pergunta? Não importa que tipo de vitória: uma competição, a conquista de um emprego, a recuperação de uma doença, uma meta atingida.
Vitórias são os que nos mantém motivados, nos fazem crer que nossas escolhas e decisões foram acertadas em algum momento da nossa jornada tantas vezes, errante.
É o alívio, a redenção, a recompensa.
No esporte, para alguém vencer, os outros precisam em algum momento, perder. Por isso o esporte é algo visto como injusto. Injusto para quase todos, menos para o campeão. O campeão recebe o direito de estar no Olimpo, lugar dos imortais.
Mas o que é necessário para se tornar um imortal?
Eu vivi anos da minha vida competindo. Senti o prazer de ser campeão, o gosto da derrota, o orgulho de cumprir aquilo que treinei para alcançar, a decepção de fazer o que achava ser suficiente e não foi.
Me aposentei das competições e comecei a ver que vencer, no sentido amplo da palavra, estava muito além de conquistar uma medalha de ouro. Não se tratava somente de vencer, mas sim de como se vence e de porque se vence. A razão da conqista. Porque e por quem lutamos.
Há alguns meses, vemos a guerra entre Ucrânia e Rússia. Vidas ceifadas, jovens indo matar outros jovens sem saber porque fazem isso. Em situações diferentes, talvez estariam papeando em algum café ou barzinho.
No esporte, estariam batalhando por uma medalha e não pelas próprias vidas, em uma guerra “justa” e com regras.
Mais uma guerra. Só que para nós, karatekas esta guerra em especial, está um pouco diferente. Não pela informação que chega em segundos nos nossos celulares, tablets e redes sociais. Mas porque dessa vez, “um de nós” está lá.
Stanislav Horuna.
Atleta da Seleção da Ucrânia de Karate. 8 medalhas em Campeonatos Europeus, sendo campeão individual ano passado na Croácia. Campeão no World Games 2017 na Polônia, Campeão do European Games 2019 na Bielorrússia e 3o Lugar no Campeonato Mundial 2017 na Alemanha. Uma carreira consolidada na categoria considerada a mais difícil da WKF: Kumite -75kg. Categoria que conta com nomes como: Rafael Aghayev, Luigi Busa, Ken Nishimura, Tom Scott, Noah Bitsch.
Em 2021 ele chegou no ápice do atleta de karate: disputar a, até então, única edição de Karate nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Conquistou a medalha de bronze.
Porém esse ano, houve uma reviravolta na sua carreira de atleta e na sua vida pessoal. A guerra bateu na sua porta sem que ele pedisse. Ele com resignação e uma coragem digna de um samurai, enviou sua família para longe da guerra e se apresentou no front.
Mas ele foi além. Essa semana, ele colocou a sua medalha Olímpica para leilão no intuito de ajudar o exército do seu país.
Comecei esse texto com a pergunta: “Qual o preço da vitória?”
Eu mesmo, após escrever algumas linhas, já não sei mais. Já não sei o preço das minhas vitórias e mais que isso, o que de fato, são vitórias?
O valor inicial do leilão da medalha está em 10.000 dólares.
O PREÇO já temos.
Agora a pergunta que faço é outra.
Qual o VALOR da SUA vitória?
Quantas vezes nos pegamos pensando se estava no momento de nos desfazermos de uma roupa, de um sapato, de um carro?
No leste europeu, HOJE, tem um karateka que abdicou da maior honraria em QUALQUER esporte: uma Medalha Olímpica.
A vitória para ele deixou de ser o “Wazari”, o “Ippon” ou o “No Kachi”.
A vitória de Stanislav Horuna, deixou de ser a própria vitória. A sua medalha, que representava até então sua superação pessoal, tem hoje um significado muito maior.
Sobrevivência.
Lembram dos imortais, que alcançaram suas medalhas nos Jogos Olímpicos?
Cada vez mais, se parecem mortais. E isso que, de fato, nos amedronta. Porém quão mais perto de mortal Horuna chega, mais imortal, se tornou.
Não cabe a nós julgarmos as razões que o fizeram tomar tal atitude, afinal, não é nossa família na linha fogo, nossos amigos, nossos irmãos.
Cabe a nós torcermos para que no fim, ele saia com sua maior vitória dessa guerra: a vida.
E agora, sentado na minha mesa, em frente a um computador, escrevendo na segurança e conforto da minha casa, me pergunto:
Qual o VALOR da vitória?
Congratulações pelo artigo Caputo sensei! Reflexão muito oportuna!
Osu!!!
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